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Sou a Amanda, tenho 22 anos, quase formada em Letras e sou apaixonada por música e livros. Sempre gostei de ler e sempre foi um sonho falar de livros. Seja bem-vindo ao meu cantinho!

Amanda

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O Filho da Feiticeira, Kelly Barnhill





Título: O filho da feiticeira
Editora: Galera Junior
Número de páginas: 308
Ano de publicação: 2016


Para comprar: (R$ 22, 70 - Amazon)


Sinopse: De um menino desvalorizado em sua aldeia até a única esperança de todo o seu mundo, Ned já se acostumou ao seu apelido: o garoto errado. Desde que nasceram, foi sempre o irmão gêmeo, Tam, a estrela da aldeia; o mais habilidoso e querido. Quando decidem construir uma balsa para encontrar o mar, um plano que sai pela culatra, Ned se torna mais que o garoto errado: se torna o único. Agora, Ned é visto como um pária. No entanto, numa reviravolta, ele se transforma no único capaz de impedir que a magia caia nas mãos do ambicioso Rei dos Bandidos. E, para isso, arruma uma insuspeita aliada: Áine, a filha do ladrão. E eles terão de aprender a confiar um no outro se quiserem impedir uma guerra entre dois reinos há muito separados.

Um livro incrivelmente denso dentro de suas trezentas e poucas páginas e, ainda assim, escrito de maneira ágil e com fácil compreensão. O livro todo é narrado em terceira pessoa, alternando os personagens à medida que os acontecimentos avançam.


Ned e Áine são tão bem desenvolvidos e trabalhados que eu não tive dificuldades em construí-los em minha mente, pois, ao contrário de muitas outras histórias do seguimento young-adults, os dois são crianças com trejeitos de crianças e não adultos angustiados em miniatura. É claro que há eventos no livro que afetam os dois e deixam sequelas nos seus comportamentos, afinal todos nós somos moldados pelo passado. O livro tem todo essa aura densa de luto, tristeza, raiva, de fragilidade.

As minhas duas leituras desse livro aconteceram num espaço de tempo de noves meses e a minha reação ao livro permanece a mesma, ainda consigo sentir agudamente esse aglomerado de coisas que são os personagens. Em Ned há uma grande resignação e em Áine, uma mente prática.

 (…) Mas chorar não ajudaria em nada, chorar não consertaria nada, e chorar certamente não faria seu trabalho. E Áine era uma garota prática.” (pág. 71)
  

Existe magia no mundo construído pela autora, mas engana-se quem pensa que ela é benéfica, pois, na narrativa, a magia tem vontade, é instável e, de certa forma, sádica pois gosta de ver os outros sofrerem. Resquício de pessoas ambiciosas e malignas – que tiveram um fim à altura da sua ambição –, resta apenas uma pequena porção de magia que está sobre a tutela da mãe de Ned, a Irmã Feiticeira, que a usa, com determinação e dor, para administrar doses de bondade na aldeia local.

“A magia estava toda errada. Não era uma nuvem cor de ouro em forma de bola. E não tinha cor de tempestade, como antes. Era um tornado. Preto, verde e furioso. Chicoteou, virando mesas e se chocando em armários enquanto uma chuva fria voava em todas as direções. Livros saltavam das prateleiras e se rasgavam, as páginas se espalhando como folhas secas de árvores. Jarros e garrafas se despedaçavam. Ferramentas de metal se retorciam e se quebravam.” (pág. 80)

Os destinos de Ned e Áine se entrelaçam quando o pai de Áine, um homem modificado pela perda da esposa, tenta roubar a magia que estava com Ned e sua família e para resguardar que a magia não seja usada para coisas ruins, Ned acaba se vinculando a ela. Áine tem uma forte convicção, herdada de sua mãe, que magia não existe e é difícil para a garota acreditar que o pai acredita e está envolvido com ela.




Vinculado à magia, ela dança, se contorce e se agita na pele do menino, Ned é levado junto com o homem. Ele consegue fugir e, na fuga, encontra um lobo que o acompanha durante o restante da narrativa. Ned e Áine são opostos de fato mas que se completam e a forma como a autora demonstra isso é magistral. É tão bem trabalhada que em alguns capítulos, quando ela dá vida às pedras, não há nenhuma tipo de estranhamento.

Essas pedras já foram pessoas poderosas e foi delas que a magia veio. Tentando driblar a morte usando a magia, essas pessoas se tornaram imortais da pior maneira possível. Após esse acontecimento, a magia ficou descontrolada e dividiu o mundo – literalmente – criando uma densa floresta como barreira que separava os dois lados do que, um dia, já foi um só país. Mas antes que toda a magia fosse perdida na gênesis da sua brutalidade, essas pessoas poderosas contaram para três mulheres como controlar e usar a magia para o bem. Essas mulheres eram parentes de Ned e de sua mãe.

Como já foi dito, a narração tem uma densidade de sentimentos surpreendente e uma leitura rápida e isso foi uma característica que me prendeu. Não existe muita profundidade narrativa no que tange os espaços de narração, até por que são poucos e a autoras estava se focando mais nos aspectos pessoais de cada personagem, mas isso não é empecilho nenhum para a leitura e ajuda a ficar mais rápida. Acontecem coisas com os nossos dois garotinhos que me deixaram soluçando e, ao mesmo tempo, com um sorriso no rosto pois nada supera os olhos de uma criança ao encarar o ruim.

- A morte acontece – retumbaram as Pedras em uníssono. - É uma tristeza, mas não uma tragédia. Quando os que morrem são impedidos de seguir em frente, isso é uma tragédia. — Não – disse Áine. - A morte é sempre uma tragédia. - Ela estava pensando na mãe. Pensando naquele último e terrível tremor. - Sua mãe seguiu em frente, criança. Pense só como seria terrível se ela não pudesse ir. Se fosse arrancada da vida, mas não pudesse ir para a seguinte? Ned lançou um olhar intenso para as Pedras. - O q… que acontece com os q… que f… ficam presos? - Eles esperam – responderam as Pedras. - Quanto tempo? - perguntou Áine, baixinho. - Tempo demais – sussurraram as Pedras. (pág. 231)

Em suma, para mim, esse livro trata de temas como luto e como certas pessoas reagem a ele; a esperança e o que ele traz; a ganância e suas tristes consequências, mas, acima de tudo, a vontade de viver, de crescer além das expectativas dos outros. Ser feliz. E o mar, que era um tabu e destruiu uma família com o peso do medo, é sinônimo de esperança para Ned e, como uma das passagens mais bonitas e com uma carga sentimental tremenda para mim, Ned retrata isso para o seu pai.

“Papai”, estava escrito no lado virado para cima. Com as mãos trêmulas, o lenhador pegou o bilhete e o abriu.“O mar”, dizia o bilhete. “O mar!”Não estava assinado e não dizia nada sobre onde ele ia nem quando voltaria ou por que precisava ir. Mesmo assim o pai de Ned soube.O mar significava eu amo você.O mar significava um dia eu volto.O mar significava preciso encontrar o mundo, abraçar o mundo e viver no mundo. E preciso amar o mundo. E amá-lo, amá-lo, amá-lo. Tanto quanto amo você.” (págs. 305 e 306)



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