3069 Dias, livro escrito por uma vítima de um sequestro que durou a quantidade de dias nominado em seu livro. Natascha Kampusch, 4 anos após conseguir fugir de seu cativeiro, onde passou 8 anos, após finalmente se sentir livre, decidiu descrever nas páginas de um livro tudo aquilo que passara e sentira nas mãos de um sequestrador paranóico, e como conseguiu sobreviver tantos anos sem perder a sua identidade.
Enredo
Natascha narra todo o livro em primeira pessoa, contando como sua infância foi difícil, que a gravidez de sua mãe não foi planejada e o quanto fora desprezada por aqueles que deveriam ser seu refúgio, sua família, mas essa narrativa inicial justifica-se quando Natascha começa a narrar sua vida em cativeiro. Por ter passado por uma situação muito difícil e ter aprendido a ser uma menina forte, que não chora ou reclama, conseguiu construir muros em si, para conter lágrimas e sentimentos que uma menininha geralmente sente em sua idade, e isso a ajudou em seus momentos horríveis com seu sequestrador.
Em um dia normal, aos 10 anos de
idade, por uma pequena teimosia, Natasha decidiu ir a escola sozinha, sem se
despedir de sua mãe, após um desentendimento ocorrido na noite anterior, mal
imaginava que a simples falta de uma despedida poderia assombrá-la por muitos
anos. Após passar por uma das ruas de seu caminho para a escola, visualizou uma
van branca, e nela, um homem encostado de forma natural. Segundos após trocar
um olhar com este homem, viu-se presa dentro da van, e obedecendo comandos para
ficar quietas e demais ameaças. Natascha obedeceu prontamente o homem,
lembrando-se das reportagens sobre sequestros que ocorriam na região em que
morava, com medo de ser violentada e morta.
A principio, o sequestrador
tratou-a bem, por ser uma criança pequena, dava-lhe quase tudo o que pedia,
menos a sua liberdade. Natascha conta, de maneira um pouco desregular, com
relação a linha temporal, a maneira com que era tratada, pois alterna de quando
entrara no cativeiro, e de vez em quando conta detalhes de acontecimentos
ocorridos anos depois, mas mesmo assim, todas as lembranças da vitima é muito
clara.
Wolfgang Priklopil, o
sequestrador, mostrou-se um homem agressivo e descontrolado psicologicamente
com o passar dos anos, exigiu que Natascha escolhesse outro nome e não
aceitaria mais que ela se chamasse por este, passou a agredi-la, física e
psicologicamente, e tentou fazer com que ela o chamasse de mestre e ajoelhasse
diante dele, o que sempre fora negado por ela, em uma tentativa insistente de
manter-se no controle nas mãos daquele homem, mesmo sendo agredida após
desobedecer sua ordem.
Natascha registrou em um diário,
varias agressões sofridas no cativeiro, todos os dias, era chutada, estapeada,
golpeada, esmurrada, Priklopil jogava coisas nela, a empurrava em cima dos
móveis e diversas outras agressões, mas, de acordo com o livro, ele nunca
abusou dela sexualmente.
Com o passar dos anos, Priklopil
deixou Natascha sair da casa, mas sempre sobre seu olhar, sempre com ele em
cima dela, observando todos os seus movimentos, e então ela passou a frequentar
a casa, no andar de cima, saindo de dentro de sua prisão no porão, e mais tarde
ainda, pôde sair da casa do sequestrador, mas sobre todas as ameaças possíveis
de que ele mataria ela e todos aqueles que ela tentasse conversar, o que tornou
uma tortura para ela, tanto estar dentro do cativeiro, quanto fora dele.
Natascha conseguiu, sozinha, sua
própria liberdade, conseguindo escapar de Priklopil 8 anos após o sequestro,
por um momento de distração dele. E mesmo depois de sua fuga, passou
dificuldades em sua liberdade, por causa da mídia.
Os Personagens
Natascha Kampusch, uma menina de
10 anos, que surpreende com suas atitudes e o tamanho de sua maturidade perante
uma situação extremamente difícil. Os princípios e personalidade dela nunca
mudam, apesar do passar dos anos e tamanha pressão psicológica que passa no
cativeiro.
Wolfgang Priklopil, um homem perturbado
emocional e psicologicamente, a razão de seus descontroles e distúrbios nunca
foram explicados no livro, mas é um personagem que, por causa dos pensamentos
positivos de Natascha, não conseguimos sentir um ódio mortal, como deveríamos,
talvez porque a própria vitima não sentisse isso, mas é muito revoltante ler o
quanto ele humilhou e espancou a garota.
Minhas Impressões
Eu terminei de ler este livro,
totalmente abalada, não é um livro de uma história fictícia, é uma história
real de uma menina que conseguiu, sozinha, escapar do seu maior pesadelo.
Percebe-se que Natascha escreveu
seu livro para desabafar, para dar um ponto final em tudo o que aconteceu,
entre suas emoções e os acontecimentos, ela narra também o fato de a policia
não ter investigado propriamente o seu desaparecimento, encontra falhas, e luta
por justiça por vidas de meninas que possam ser sequestradas futuramente.
Um dos comentários que ela faz no
livro me abalou muito, por causa de um fato recente que ocorreu aqui no Paraná,
com a advogada Tatiane Spitzner, Natascha destaca a importância da
defesa de uma mulher com relação a agressões sofridas no ambiente doméstico e
quantas mulheres são agredidas em silencio por homens descontrolados, que na
frente das pessoas são normais, mas dentro de casa transformam-se em pessoas
totalmente diferentes.
O caso da Tatiane me lembrou o
livro que li a pouco tempo e resenhei aqui, É assim que acaba, onde mostra o
que passa na cabeça de uma mulher que sofre agressão. Tatiane Spitzer era
advogada, e com certeza conhecia muito bem seus direitos com relação a
agressões sofridas em seu casamento, mas por alguma razão, manteve-se em
silêncio, oprimida até sua morte.
O livro é bastante perturbador,
mas ao mesmo tempo mostra o quando podemos suportar o insuportável, e que o ser
humano não é tão quebrável quanto pensa ser.
Citações Favoritas
“O peixe não pula para fora da borda do aquário de vidro se a morte estiver esperando por ele.” (pág. 90)
“A única saída era fugir para dentro de mim. Fechei os olhos, bloqueei tudo a meu redor e não me movi um centímetro.” (pág. 93)
“Pessoas que não têm ideia das complexidades do cativeiro me negam a capacidade de julgar minhas próprias experiências ao pronunciar três palavras: "síndrome de Estocolmo".” (pág. 103)
“A Natascha adulta abraçou a Natascha menor, que nem tinha mais esse nome, e a confortou, dizendo: – Vou tirar você daqui, prometo. Você ainda não pode fugir, porque é muito pequena. Mas, quando tiver 18 anos, vou dominar o sequestrador e libertar você desta prisão. Não vou abandoná-la. Naquela noite, fiz um pacto com meu próprio eu mais velho. E mantive a palavra.” (pág. 101)
“Você não pode obrigar alguém a ser eternamente obediente e certamente não pode forçar ninguém a amar você.” (pág. 150)
Dados
3068 dias, Natascha Kampusch – Ano: 2011 – 225 paginas – Editora Verus