Em Só os Animais Salvam, vemos
uma obra muito sensorial, que transmite ao leitor um pouco do sentimento de
cada personagem, cada animalzinho que compartilha um pouco de sua história. Nesta
obra a autora mostra que tanto a capa, quanto o conteúdo do livro são admiráveis. Distribuído em 10 contos, o livro traz a história de 10 animais, que narram ao leitor um pouquinho de suas vidas.
O ENREDO
Nove capítulos são narrados em
primeira pessoa e apenas um deles é narrado em terceira pessoa, o capitulo do
Urso.
Algo semelhante de todos os contos
é que todos estes animais contam um pouco de como viveram em meio a guerras
entre países, guerras diferentes entre países diferentes, mas de acordo com a
narração, percebemos quais são os países mencionados.
PERSONAGENS
Temos aqui diversos personagens,
mas os protagonistas de nossos contos são: camelo, gata, chipanzé, cachorro,
mexilhão, tartaruga, elefante, urso, golfinho e papagaio.
Camelo: Um dos contos mais curtos
do livro, se não o mais curto, onde o camelo narra sua vida sendo domado por um
homem bêbado e sem escrúpulos, que conta histórias um pouco estranhas ao
camelo, e que se surpreende ao final do conto com suas atitudes.
Gata: A Gata é um dos capítulos mais
sensoriais do livro, enquanto ela narra sua vida atual, perdida entre trincheiras
de uma guerra, com outro gato em meio aos soldados, e tendo um humano (que ela não chama de dono) que esconde seu romance com outro soldado. Ela
narra também como era sua vida de luxo com sua antiga dona, que a amava muito.
Chipanzé: Aqui temos o capítulo
mais diferente de todos os contos. O chipanzé aparentemente é treinado para se
comunicar e agir como humano, e todo o capítulo é narrado em cartas dele sendo
enviadas a outra chipanzé e uma humana. A outra chipanzé também está sendo
treinada para agir como humana, e a narrativa de suas atitudes são bem
humoradas.
Cachorro: Este cachorro não é um
cachorro comum, que tem um dono e que vive em uma casinha. Ele viveu com seu
mestre durante muito tempo, e narra como foi banido de seu posto ao lado do
mestre que tanto amou, e foi parar em um campo de guerra. O final deste
capítulo é muito interessante.
Mexilhão: Um mexilhão
aventureiro, que junto com seu amigo decide viajar no casco de diversos navios,
narra suas aventuras com garotas e a felicidade em suas viagens, mas mesmo um
mexilhão pode ser afetado pela guerra.
Tartaruga: Este é o capitulo mais
longo do livro. A tartaruga passou por diversos donos e narra todo amor e
angustia que passou por anos ao lado de tantas pessoas, mas que por fim,
conseguiu buscar aquilo que mais sentia vontade de fazer.
Elefante: Uma elefante fêmea que
narra sua estória junto com seu bando, aprendendo sobre seus ancestrais
juntamente com sua irmã, e entendendo a relação das constelações do céu com as
histórias deles. Aqui temos um amor muito forte entre os elefantes e o quanto
eles são dedicados quando se trata de família.
Urso: O único conto narrado em
terceira pessoa, alterna entre dois ursos em um zoológico, conversando com uma
bruxa e uma história narrada pela ursa, sobre um príncipe persa preso em um
corpo de urso.
Golfinho: Uma golfinho fêmea que
nasceu e foi treinada para ajudar a procurar e marcar minas no fundo do mar,
todo o conto é narrado de forma póstuma, como se fossem cartas da golfinho a
uma humana.
Papagaio: O último conto é também
bem curto, mas bastante impactante. Comprado ainda jovem em uma loja de
animais, recebeu muito amor de sua dona durante sua vida, sempre fora muito bem
cuidado e tratado, sempre sendo prioridade na vida de sua dona, mas quando os
tempos de guerra chegaram, algumas coisas passaram a ser diferentes.
MINHAS IMPRESSÕES
Mas o que mais se destaca no
livro é o sentimento, dos animais por humanos, dos humanos pelos animais e dos
animais pelos animais. Há um amor muito forte em certos contos, emocionante,
que leva ao coração do leitor como um animal é capaz de amar e de se sacrificar
por seus sentimentos.
Uma curiosidade do livro é que a
autora expõe a homossexualidade entre os animais de forma muito natural, não que
todos os contos haja animais que se relacionam com o mesmo sexo, mas a forma
narrada é leve e descomplicada, até mesmo quando se trata de alguns humanos.
O livro me surpreendeu, eu já
havia lido uma resenha dele, mas não me chamou muito a atenção, por não ter
destacado este fato sensorial e amoroso que o livro tem. Peguei ele emprestado
de uma amiga, por ter visto muitas fotos dele no instagram literário, e decidi
dar uma chance a leitura. No começo é um pouco estranho, mas durante a leitura
criei muito amor por cada conto.
CITAÇÕES FAVORITAS
“Buscando ficar por perto, acabei colocando uma grande distância – uma guerra inteira – entre nós. Mas agora estou voltando para casa. Guarde esta ave para meu lanche, se possível” (pág. 44)
“Gosto do fedor. Bafejo e respiro de volta. Agarro-me ao lustre que pende do teto e me balanço, para a frente e para trás, para frente e para trás. Coço a bunda e cheiro o dedo” (pág. 54)
“É, mas você é um mundo por si mesmo, assim como eu”, ela disse “Somos todos pequenos mundos” (pág. 106)
“Um pensamento cruzou minha mente: por que os humanos escolhiam enxergar tantos animais nos arranjos das estrelas? Quem juntou os primeiros potos?” (pág. 142)
"É pior ter liberdade e perdê-la ou nunca saber o que é ser livre?" (pág. 194)
SOBRE A EDIÇÃO
Mais um livro da Dakside Books,
que tem a fama das melhores edições. Este livro tem uma capa bem representativa
de seu conteúdo, e dura. Ao abrir o livro você encontrará um pequeno quadrinho
escrito “Este livro pertence a.... E ao meu querido pet...”. As páginas são
amareladas e as letras estão em um tamanho bom, não cansam os olhos. Já vem com
um marcador de fita de cetim estreita.
DADOS
Ceridwen Dovey, Só os Animais
Salvam – Ano 2017 – 237 páginas – Darkside Books (selo Darklove)
ONDE COMPRAR